Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber
se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita,
muito prazer. A imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa
profissional, mãe, filha e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho
minha grana, vou ao supermercado, cuido de quem vive comigo, procuro minhas
amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas
de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, providencio os consertos
domésticos e ainda faço as unhas e depilação!
E, entre uma coisa e outra, leio livros.
Portanto, sou ocupada, mas não uma workholic.
Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi
duas coisinhas que operam milagres.
Primeiro: a dizer NÃO.
Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO.
Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero.
Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.
Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da
maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você
seria modelo para os outros…
Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa:
tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e
mamasse direitinho.
Você não é Nossa Senhora.
Você é, humildemente, uma mulher.
E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir,
bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada,
não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por
dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser
indispensável. É ter tempo.
Tempo para fazer nada.
Tempo para fazer tudo.
Tempo para dançar sozinha na sala.
Tempo para bisbilhotar uma loja de discos, livros, roupas,
etc.
Tempo para sumir dois dias com seu amor.
Três dias..
Cinco dias!
Tempo para uma massagem..
Tempo para ver a novela.
Tempo para fazer um trabalho voluntário.
Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.
Tempo para conhecer outras pessoas.
Voltar a estudar.
Tempo para existir
Existir, a que será que se destina?
Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.
A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for
super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem
avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.
Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada
pedacinho de si.
Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!
Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser
independente.
Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais
livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana
para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha
trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.
Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa
Prada, e o batom da M.A.C.
Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo
isso, francamente, está precisando rever seus valores.
E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à
beira-mar e o rosto lavado podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova
perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante.
Lição de casa da semana: refletir e admitir para mim e para
todos, que sou imperfeita. Quem é também?
PS: Li esse texto no blog da Mayra (mãedevarios.com), que é
uma das sócias do site de culinária Dedo de moça.
(Tradução: Imperfeição é linda. Loucura é genial. E é melhor
ser absolutamente ridículo do que absolutamente chato.)
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